O que diferencia o Realtragismo?

09-03-2009 04:09

          A arte é expressão, tanto em si, como em atividade: como arteando. Então vamos às reflexões: a arte é a expressão dos reflexos entre o indivíduo e o mundo, e sua busca de identidade INCONSCIENTE, ou a fuga desta mesma. Se já pensou desta forma, agora pense comigo:

O mundo reflete tudo o que o faz ser "mundo," um todo, uma unidade cheia de complexidades e complexa por si. A este reflexo do mundo vamos chamar de intra-arte, pois é a noção que o artista tem do mundo que o cerca, e é arte, porque é uma expressão, uma que causa um sentimento de reflexo neste artista.

 

        Por que nem todos são artistas? Bem, o ponto original, a fonte que mostra e acusa quem é artista ou não é exatamente o sentimento que causa o reflexo do mundo nesta pessoa. No artista, este reflexo do mundo é tão intenso, que ele refaz o mesmo reflexo, baseado no quê e em quê gostaria que fosse o entendimento de todos.

 

       Já os não-artistas, ou pessoas normais: os passivos de arte, não são menos que os artistas, eles são a interação, a extensão da arte, pois a arte do mundo é inteirada no reflexo do artista para a criação de uma nova a arte... logo, o reflexo do não-artista, o passivo: o que recebeu a arte do artista, o que ele faz, ou como reflete nele esta arte é diretamente a inteiração e o que completa a obra do artista.

Esquema-resumo, só pra facilitar:

 

O SÊR DO MUNDO>>>O SÊR DO ARTISTA>>> O SÊR DO NÃO-ARTISTA>>> FORMA DE ENCARAR O MUNDO E A ELE TRANSFORMAR>>> O SÊR MUNDO>>>

            Percebeu que há um círculo nesta história toda? Agora juntemos o que o homem tem de conhecimento científico e teremos o no quê este mundo se transformou.

 

            O que é aceito por uma cultura é exatamente o que foi dito na arte; e ao mudar o dito, introduz-se um novo, ou no mínimo, um diferente valor – tendo como os valores, os que decidem o que é ou não é moralmente aceito.

Abrimos um parênteses para colocar melhor este choque entre a ciência e a moral: Tudo o que é feito, é pensado como pode ser melhor feito, antes, ao se fazer, e depois de ser feito. Agora, eu te digo, que na ciência, a prática e os resultados dela são sempre os mais aceitos como a verdade e esta verdade comoa moral. Logo, se você sabe perfeitamente como clonar, sem danos físicos ao clonado... então você está moralmente certo. Preciso dizer que esta moral - esta ética – sempre entra em choque com a ética artística... ou a até a ética religiosa?

            Fechando os parênteses, voltemos à aplicação do que eu tanto disse até agora e o que leva-me a dar esse título: O que diferencia o Realtragismo.

            Ora, o que é? Quando o artista sente que deve passar - expressar - às pessoas o reflexo que obteve do mundo, ele escolhe COMO vai usar deste reflexo para mostrar o que o fascinou do mundo. Se, no artista o amor foi o que mais o fascinou, ao receber o SÊR do mundo, logo ele vai escolher, uma forma de mostrar às pessoas como o amor o fascinou... isso se chama: ROMANTISMO, mas não o movimento romantista, digo aqui por romantismo o expressar do artista ao mundo sobre o amor, o que acontece dentro dele é o ROMANTISMO, pois aqui, digo o romantismo, como a atividade, ou seja, o reflexo e o que reflete do amor dentro deste ou de outro artista.

 

            Saiamos do exemplo do ROMANTISMO para entrar na PRÁTICA AO REALTRAGISMO:

Quando, - ao ver o que o mundo lhe reflete - o que fascina este artista  é a tragédia, o sofrer e o penar de todo o mundo frente àquela trágica expressão – preste atenção, porque falei de FASCINAÇÃO -, é isso o que ele sente que deve transmitir, e refletir às pessoas deste mundo o exatamente o que achou, o que sentiu ao sentir toda aquela tragédia... é isso o que vai fazer do artista, um artista TRÁGICO, mas não ainda um REALTRÁGICO.

 

          Por que somente trágico? Porque quando o artista trágico mostra ao mundo sua fascinação pela tragédia, assim como no romantismo, ele demonstra o seu sentimento, o que ele sente, o que está acontecendo dentro dele, depois de ter sentido a tragédia... já os Realtragistas, nós, pensamos no sentimento de quem vai sentir o que nós vamos refletir, e se a isso não fizéssemos, seríamos apologistas da tragédia e não os revézes dela.

          Conosco, é como se eu pensasse no que você vai sentir ao se debater com a tragédia que estou sentindo, e ao fazer isso, vou te refletir, apenas o que faz com que repense suas ações neste mundo, pois é assim que o mundo se reflete em mim. Exemplo? SIM: Vamos dizer que estou fascinado com o sofrimento particular e introspectivo de um soldado com a perna direita em toco, rastejando-se e quase morrendo num campo de batalha.

           Ao introduzir isso na minha expressão, estou querendo o quê? É exatamente isso que os Realtragistas se perguntam. E o que colocam ao expressar tal sentimento, faz com que se coloquem num diálogo com o receptor, mudando sua posição, de passivo, para ativo, frente àquilo que está sendo apresentado como trágico.Numa narrativa Realtragista estão juntos: o narrador e o leitor num único entendimento, mas nunca na mesma concordância.

 

           É uma mudança no foco sim, ao fazer arte e a ela se apresentar às pessoas, no Realtragismo, estamos cobrando um resultado, um reflexo do que apresentamos, de quem sentiu, do receptor e aqui é essa a inteiração, é isso o que completa o Realtragismo: é a mudança do que tratou e  aquele fato como trágico.

 

          Mas não querendo fazer você rir da cara de quem se arrasta com a metade da perna direita num campo de batalha coberto de cadáveres... ora, por que este soldado está lá? Por que ele não está aí como você está, sentado e confortável, longe daquele cheiro de sangue? Sim... a resposta já não é novidade... o soldado está lá porque você quer, você precisa de alguém que esteja lá para sentir-se bem onde está. Ou não?

Compreende as perguntas? Se entende... vai ver que são reflexões, é o reflexo que o Realtragismo causa no não-artista e que se completa somente se quem recebeu aplicar no mundo real, o mundo que expressou a tragédia inicial ao artista, aí aplica-se o mesmo exemplo que dei sobre o círculo de produção artística. Sabe... aquele que começa e termina no SÊR DO MUNDO, ou seja: o mundo que temos.

 

 

[Hiago Rodrigues Reis de Queirós, em: Análises Práticas da Prática Realtragista, 2007]

 

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