O Manifesto Realtragista

                      Proclama-se por si, e por si só, vindo dentre nossa realidade artística atual e cada dia dos nossos dias seqüentes, o movimento artístico que irresponsabiliza a mensagem do compositor de qualquer meio de expressão artística de regras fixas, padrões ou bases anteriores à sua composição sobre aspectos morais, religiosos e sociais, fazendo uma arte provocativa, que indaga ao receptor sobre a veracidade e a utilidade do modo artístico a ele apresentado.

                     Este manifesto, defende na arte, uma visão trágica do Realismo, pondo o homem objectivamente como o único herói e também vilão de si mesmo; sem nenhuma extremação, ou dicotomia de bem e mal, pois todas são atitudes humanas; por assim ser, o Realtragismo vem cobrando do receptor da arte um julgamento acerca dos valores explícitos, irresponsabilizando totalmente o autor pelas conclusões, este somente as expõe. Por isso trago esta convocação aos artistas contemporâneos como uma arte provocativa, que interroga-se até mesmo sobre a forma artística que representa, mostrando-se ainda como inacabada, e que só pode ser concluída por quem a recebe.

                   Cada criação Realtragista, independente do ramo artístico demonstrado, traz consigo a liberdade do uso do real, do cotidiano no extremo, onde insere-se o ato finalíssimo trágico, insere-se o homem e procura-se a natureza humana como ela é, sem valores nem conceitos pré-estabelecidos, sem divindades nem mitos, mostrando o homem como um reflexo das decisões tomadas por todos os homens, e nisso encerra a fileira desprolongada e sim crescente em si, de incertezas sobre o que é atualmente certo e correto de se decidir, um extremo olhar para dentro do ser humano, seja para assuntos religiosos ou políticos, psicológicos ou morais... Eis o extremo ali... Eis o Realtragismo interrogando a existência humana em todas as suas faces, sempre findando a tragédia partindo da realidade atual.

                    O Realtragismo tem fundo fatalista, mas procura em seu meio, tornando o objetivo um repensar acerca das atitudes e conceitos fixados pela sociedade; também ramifica-se aos conceitos sociais, religiosos e morias, mas é sobre o conceito artístico que põe sua base ao verter para a arte, que apóia-se na tragédia humana para debater as aspirações, relevâncias e as abstenções tomadas como cotidianas e aceitáveis.

                    Sendo assim, este interagir entre a arte e o receptor depende somente dele mesmo, como ultilizador o ignorador. Mas pelo contrário de uma arte qualquer... a interação dela, que é o que a torna completa como arte, não é somente o fascínio passado do artista para o receptor, aqui, o Realtragismo cobra uma ação de quem recebeu o sentimento, e como é sempre trágico, a reação é um evitar desta tragédia real, a que está diretamente ligada ao tema geral da Realtrágica, uma mudança no que a fez ser realidade, um repesar nos valores que deixaram que acontecessem estas tragédias... esta é a interação, ou seja, o que completa a arte Realtrágica, que traz os amores impossíveis, a felicidade passageira, a felicidade triste, a solidão acompanhada, todas objetivando um repensamento sobre suas causas, marcando a tragédia como somente a resolução.

                   O termo Realtragismo é utilizado quando se tira a tragédia da realidade; caracteriza-se ela, adaptando-a de acordo com o objetivo... e este objetivo é o de cobrar do receptor uma solução para a tragédia real, ou no mínimo, um repensamento acerca de como reagir a ela. Se fosse só trágico, não teria o objetivo da ação, não cobraria e talvez nem até apresentaria algum tipo de solução ou repensamento, pois o objetivo dos subgêneros são os sentimentais, como o de amor é para amar, ou de ódio é para saber o ponto do ódio sobre nossas vidas; o trágico vem sempre para fortalecer o seu antagônico, como se acrescentássemos a tragédia num romance... teríamos ele mais forte, mais pulsante; marcando então este eixo, a tragédia serve de apoio, o Realtragismo é o que se apóia na tragédia e apela para uma nova conceitualização, mas sem dar caminhos, ele apenas provoca, apresenta os dois lados de cada sentimento expressado frente à tragédia posta e pede uma atitude, ou uma nova visão sobre os fatos, visão esta que cabe ao receptor, e não mais ao autor.

                  São com estes objetivos, que convoco a todos os artistas, de todos os segmentos artísticos, a virarem-se ao Realtragismo, indagando-se se a isso já não o fazem, ao explicarem sua intra-realidade a todos, tendo-os como somente um ponto a ser seguido, tirando a arte de ser um espelho da alma humana para pô-la como o tema que não mais a reflete e sim: como o tema que é ela refletida.

                   A ética Realtragista está aí para questionar a moral sim, mas não para propor uma única solução, uma tese ou síntese; atendo-se então à provocação de ambas as partes dialéticas da moral.

                   O artista realtrágico é um entusiasta da discussão, que sim se põe do lado que a si parece mais justo, mas que o faz de forma pessoal e não coletiva, representando-se somente. Ser Realtragista é questionar a realidade em todos os aspectos, apontando a tragédia como um não questionamento, um fatalismo impensado.

                   Nosso tempo é o de uma vida agitada, com distrações tamanhas e inúmeras, que pensar na forma com a qual vivemos e levamos a vida torna-se difícil, vista como inútil e até alienativa; por isso, convoco os artistas comtemporâneos, que preambulam suas aspirações dentre todos os povos, para que, pondo a tragédia, possamos, neste choque, trazer para todos a discussão sobre o viver e o como viver.

                  Manifesto-me contra esta arte demagoga atual. Manifesto-me contra a arte como ferramenta política, consumista e até jornalístisca. Manifesto-me para que não só defendamos os que sofrem; não só acusemos os que causam o sofrimento, mas que mostremos que todos sofrem e também causam o sofrimento com suas escolhas. Assim, clamo para que levemos em conta de que estamos aqui, nós, artistas desta era alienada, para discutir somente o que é o fazer sofrer e não para apontar o ser humano que tanto sofre, ou que tanto quer fazer este sofrer.

                 Convoco todos a tratarem a arte pelo homem e não só mais pela arte, pois não devemos ignorar quem somos ao estarmos de frente para o que nos representa, nos expressa, e sim que devemos nos ver nela; assim peço, para que repensem a tragédia de modo como causa sobre nosso descaso com a realidade, numa espécie de alienação, numa desresponsabilização acerca dos fatos... como se não fôssemos nós os causadores dela, o que é inadmissível ao Realtragismo, onde homem define o Ser Humano.

                Ao fim, peço para que não flutuemos sob a realidade, deixando-a sem uma narratória artística... narratória esta que é o que mantém a arte viva e retroalimentada. Não, devemos mergulhar na realidade e dela trazer a arte, caso contrário ela morrerá, ofuscando-se com o passar do tempo, tornando-se algo que já foi, enquanto o homem ainda está sendo e ainda será.

"A este dia, digo-me Realtragista, porque as pessoas são a medida de suas escolhas; toda tragédia é o descaso das causas da mesma, e o Realtragismo é o Realismo fundamentado no drama humano do efeito trágico".

Hiago Rodrigues Reis de Queirós; 20 de março de 2006

Procurar no site

Sobre o Manifesto

09-03-2009 06:46

O dia do Manifesto

           No dia 20 de Março de 2006, um jovem escritor, chamado: Hiago Rodrigues Reis de Queirós, foi convidado a dar uma palestra para três classes de alunos de teoria literária, na junção colaborativa entre as faculdades: UEPG, CESCAGE e UFPR....

 Você tem permissão para reproduzir, publicar ou vender toda a informação que este site contém. Desde que não altere o conteúdo e cite-nos como fonte.

Creative Commons License
Site Realtrágico by Equipe Realtrágica is licensed under a Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil License.
Based on a work at www.realtragismo.webnode.com.